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Seletividade Alimentar no Autismo

  • Foto do escritor: Cleber Pereira
    Cleber Pereira
  • 8 de ago. de 2024
  • 3 min de leitura

A alimentação infantil é uma preocupação comum entre os pais, que buscam oferecer uma dieta balanceada e nutritiva para seus filhos. No entanto, sabemos que crianças tendem a ser seletivas com certos alimentos. Essa preocupação é ainda mais acentuada no contexto do autismo, onde a recusa alimentar pode ser mais intensa.

Um estudo que entrevistou pais de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) revelou que 67% relataram que seus filhos eram seletivos em relação à alimentação. A textura dos alimentos foi apontada como o principal motivo dessa seletividade (69%), seguida pela aparência (58%), sabor (45%), cheiro (36%) e temperatura (22%). Além disso, o maior desafio relatado pelos pais foi a relutância das crianças em experimentar novos alimentos (69%) (Cermak, Curtin, Bandini, 2010).

Diversos fatores podem contribuir para essa seletividade, como dificuldades motoras orais que tornam a mastigação mais difícil, padrões de comportamento restritivos e repetitivos que levam à resistência a mudanças, e problemas gastrointestinais que podem associar desconforto à alimentação ou indicar intolerâncias ou alergias.

A nutricionista Isabella Oliveira, que atende predominantemente pacientes autistas, explica que “crianças com TEA têm uma maior predisposição à seletividade alimentar, pois essa seletividade é multifatorial. Embora nem todas as crianças com TEA apresentem esse comportamento, o trabalho com elas visa sempre manter uma boa variedade alimentar”.

Ela também enfatiza que os pais e cuidadores podem desempenhar um papel crucial na rotina alimentar da criança. O primeiro passo é reconhecer que, embora os adultos compreendam a importância da alimentação para a saúde, as crianças ainda não têm essa percepção. “No mundo das crianças, o ato de comer não faz sentido por si só, por isso uma das principais estratégias é tornar a alimentação um momento prazeroso e lúdico”, explica Isabella.

Uma maneira de fazer isso é associar os alimentos a atividades que a criança já aprecia. Por exemplo, se a criança gosta de assistir a vídeos, pode-se apresentar conteúdos que abordem alimentação de forma divertida, com músicas que incentivem a comer. Se ela gosta de pintar, é possível fazer carimbos com legumes ou criar tintas naturais com condimentos.

“Nunca devemos introduzir um novo alimento e exigir que a criança o coma de imediato, sem antes permitir que ela se familiarize com ele. A ideia é incorporar os alimentos em diferentes contextos, retirando a pressão que muitas vezes surge durante as principais refeições, como almoço e jantar”, aconselha a nutricionista.

A longo prazo, a seletividade alimentar pode levar a deficiências no crescimento, carências nutricionais, anemia, atrofia muscular, diabetes, hipertensão e outras doenças crônicas. Por isso, é fundamental que a criança tenha uma dieta variada, e esse processo deve começar desde a introdução alimentar, que é o momento ideal para estabelecer bons hábitos alimentares. Nessa fase, é importante que a criança explore as diferentes texturas dos alimentos, respeitando os sinais de fome e saciedade, e que os alimentos sejam oferecidos de forma individual, sem misturas.

Outro aspecto relevante destacado por Isabella é que “os alimentos nunca devem ser liquidificados ou peneirados, para que as fibras sejam mantidas e a musculatura oral da criança seja exercitada, promovendo seu desenvolvimento”.


Terapia Alimentar em Crianças com TEA e o Conceito de Food Chaining

A Terapia Alimentar se baseia em técnicas de dessensibilização que visam ressignificar e aproximar a criança dos alimentos, oferecendo estímulos sensoriais e progredindo na “escada do comer”.

Isabella explica que o “Food Chaining” é uma técnica criada para introduzir novos alimentos a crianças que enfrentam dificuldades alimentares, através de uma “cadeia alimentar de segurança”. “Essa abordagem consiste em introduzir novos alimentos a partir de experiências alimentares anteriores que foram prazerosas e bem-sucedidas. Nesse processo, o novo alimento deve ter semelhança em sabor, textura, temperatura, forma ou cor com os alimentos que a criança já gosta ou aceita.”

Para garantir uma alimentação segura diante das dificuldades alimentares, é necessário utilizar técnicas que facilitem o dia a dia, como inserir pequenas mudanças viáveis, como incluir alimentos nutritivos em preparações que a criança já aceita e garantir o desenvolvimento saudável através de suplementos, se necessário.

Mesmo com todos os desafios, a seletividade alimentar pode ser superada gradativamente com o apoio de profissionais especializados, como terapeutas ocupacionais (integração sensorial), fonoaudiólogos, nutricionistas e psicólogos. Além disso, o incentivo da família em casa é essencial.

 
 
 

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