O Impacto do Uso de Telas: O Que os Pais Precisam Saber
- Cleber Pereira

- 22 de ago. de 2024
- 3 min de leitura
O uso de dispositivos eletrônicos está em constante crescimento. Com o fácil acesso a celulares, tablets, televisores e computadores, é cada vez mais comum ver crianças e adolescentes conectados por longos períodos. Esse fenômeno foi intensificado durante a pandemia, quando o distanciamento social e a suspensão das aulas presenciais deixaram as crianças sem muitas opções de interação, levando-as a passar mais tempo assistindo a vídeos, desenhos e jogando online.
O aumento no tempo de tela gerou preocupações entre os pais, que começaram a notar mudanças comportamentais em seus filhos, como isolamento, falta de comunicação e atrasos no desenvolvimento. Essas preocupações alimentaram debates sobre o chamado "autismo virtual", uma condição que supostamente seria causada pelo uso excessivo de telas. Mas será que essa condição realmente existe? Vamos entender.
O Que Diz a Ciência
Primeiro, é importante esclarecer o que já se sabe sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). O autismo é uma condição de neurodesenvolvimento com base genética, ou seja, a criança já nasce com o transtorno e não o desenvolve ao longo do tempo. Dessa forma, a ideia de "autismo virtual" não é respaldada pela ciência.
O que pode ocorrer, no entanto, é que o uso excessivo de telas interfira no desenvolvimento infantil, especialmente pela falta de estímulos e interação social. Crianças que passam a maior parte do tempo em frente às telas podem acabar absorvendo apenas o que veem, o que limita sua visão de mundo e aprendizado.
Estudos Reveladores
Uma pesquisa conduzida pelo Hospital para Crianças Doentes da Universidade de Toronto, no Canadá, apontou que 30 minutos de uso diário de telas aumentam em 49% as chances de atraso no desenvolvimento da fala em bebês. Outro estudo, realizado pela empresa de tecnologia infantil SuperAwesome, revelou que durante a quarentena do Coronavírus, crianças de 6 a 12 anos nos EUA passaram ao menos 50% do tempo diário conectadas a dispositivos eletrônicos.
Recomendações de Uso de Telas
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) elaborou um manual com orientações sobre o uso de telas para crianças, que incluem:
0 a 18 meses: evitar contato com telas.
2 a 5 anos: uso máximo de 1 hora por dia, sempre com supervisão.
6 a 10 anos: limitar o uso a 1 ou 2 horas diárias, sempre supervisionado.
11 a 18 anos: uso de 2 a 3 horas por dia, também com supervisão.
Além dessas recomendações, o manual sugere evitar o uso de telas durante as refeições, estabelecer regras claras para o uso de aplicativos e dispositivos digitais, e denunciar conteúdos que possam causar danos psicológicos às crianças, como violência, abusos e conteúdos sexuais.
Dados Preocupantes
O Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) divulgou dados que reforçam a necessidade de atenção: 86% das crianças e adolescentes brasileiros, entre 9 e 17 anos, estão conectados à internet, representando 24,3 milhões de usuários. Dentre esses, cerca de 20% relataram contato com conteúdos sensíveis relacionados à alimentação ou sono, 16% com formas de automutilação, 14% com fontes sobre suicídio e 11% com experiências envolvendo drogas. Além disso, 26% foram vítimas de discriminação ou cyberbullying, e 16% tiveram acesso a conteúdos sexuais.
Essas experiências podem ter impactos significativos no comportamento das crianças e adolescentes, incluindo distúrbios do sono, dependência digital, sedentarismo, problemas de autoestima, e comportamentos violentos.
E as Crianças Autistas?
Não há recomendações específicas que proíbam o uso de telas por crianças autistas. Pelo contrário, especialistas indicam que o uso controlado da tecnologia pode ser uma ferramenta valiosa no desenvolvimento dessas crianças. Aplicativos e jogos interativos criados para crianças autistas podem ajudar na socialização e comunicação.
Portanto, o uso de telas pode ser benéfico, desde que haja um controle rigoroso por parte dos pais e responsáveis sobre o tempo e o tipo de conteúdo acessado. A chave é o equilíbrio, pois nada em excesso é saudável. É responsabilidade dos adultos definir como e quando a tecnologia será utilizada.



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